Que Brasil se quis inventar com o documentário cinemanovista dos anos 1960 e como um conjunto de ideias em ebulição – povo, subdesenvolvimento, alienação, revolução – se convertia em argumentos e imagens? O documentário brasileiro dos anos 1960 propôs uma leitura ensaística da realidade brasileira, feita a partir da mobilização de um estuário de signos – tomados como o real capturado pela câmera – com os quais se pretendia desnudar as marcas do subdesenvolvimento e decifrar a identidade original da cultura brasileira para mirar um país de sinais ambíguos de modernidade e atraso. Este livro discute a trama política e simbólica que forjou a experiência documental no Cinema Novo. De Aruanda (1959) a A Opinião Pública (1967), traçamos um mapa das narrativas que propuseram pensar a modernidade brasileira não sob o aspecto de uma locomotiva imparável, mas antes pela dialética irresolvível entre progresso e subdesenvolvimento.
O documentário no cinema novo: artifícios do real, grafias do Brasil (1959-1967)
R$72,00
O documentário adapta o mundo, entrópico e caótico, a uma narrativa coesa, a um sentido final. Não há saída fora da criação. A linearidade ou a quebra do tempo, a câmera fixa ou cambaleante, o corte abrupto ou o plano distendido: nada existe senão por escolha. A máquina fixa e reproduz seu encontro com o mundo. O filme torna-se uma realidade em si mesma, ou inverte-se a equação: não é mais a realidade que legitima o documentário, mas o filme que sanciona a realidade. O moderno documentário brasileiro procurou dar conta de uma realidade cuja essência seus filmes se arrogavam revelar. A vida imediata captada pela câmera nunca foi, senão em sugestões retóricas posteriores, sua principal preocupação. Os filmes serão os índices visuais de ideias já gestadas.