Este livro apresenta um conjunto de situações envolvendo política, cultura, racismo, memórias, emoções. Ao acessar os ricos e poderosos relatos etnográficos, análises socioantropológicas e dados históricos nele contidos, fui levada ao poema “Elogio à aprendizagem”, de Bertolt Brecht, escrito na primeira metade do século XX. O poema incentiva à luta por conhecimento e por poder. Através da aprendizagem, afirma o poeta, mudanças significativas poderiam acontecer na vida individual e de grupos sociais historicamente marginalizados. Como no poema de Brecht, este livro denuncia sofrimentos e humilhações pelos quais passaram/passam parte significativa da população nacional. Ao longo de seus capítulos acessamos o resultado de intenso trabalho acadêmico gerador de um material consistente sobre diferentes modalidades de exercício do racismo e da violência religiosa no Brasil. Cobrindo ações e decisões judiciais, interpelações à cultura, à política e ao Estado em diversas regiões, observamos a gravidade do quadro de intolerância ao mesmo tempo em que sentimos esperança diante de conquistas de direitos, de reparações, de reconhecimento alcançados pelos atores sociais. No poema, disse Brecht: “Não desanime, nunca é tarde/você tem que saber sobre tudo/você tem que assumir o poder”. As histórias, memórias, situações neste livro revelam aprendizados, estilos, conquistas, estratégias e que o acesso ao poder é meio para viver dignidade e experimentar justiça coletivamente, não um fim em si mesmo.
Christina Vital da Cunha – Professora do Programa de Pós-Graduação em Sociologia / LePar-Laboratório de estudos em política, arte e religião – Universidade Federal Fluminense, Colaboradora do ISER.