Revisitar e questionar nosso modelo hegemônico de arranjos afetivos é urgente para a emancipação socioemocional do ser humano. Quem nos disse que só um modelo funciona? Quem nos disse que a monogamia é correta e a não monogamia é coisa do capeta? De onde vem a ideia do medo do abandono, do medo de ser trocade? Por onde construímos uma relação pautada na confiança? Dependendo da sua cor, classe, gênero e sexualidade, vivências monogâmicas e não monogâmicas ainda podem replicar o jogo de poder e opressão. É possível nos libertar disso? Andreone e Rhuann, ao discutirem o sentimento amoroso e os arranjos conjugais contemporâneos e suas intersecções com relações raciais e identidade, gênero e sexualidade, levantam tal questionamento.
Um dos argumentos centrais deste livro é que, muitas vezes, a não monogamia é representada de forma homogênea, branca, heteronormativa e cisgênera, deixando de fora outras experiências e vivências não monogâmicas de corpos dissidentes. Ou seja, a não monogamia pode ser vista como uma prática política de resistência à normatividade, mas isso não significa que seja uma prática neutra em termos de raça, classe, gênero, sexualidade e outros marcadores sociais.
Outro ponto fundamental abordado é que a branquitude, em particular, tem influência significativa na forma como a não monogamia é discutida e praticada no Brasil, e isso pode levar à marginalização e ao apagamento de outras vozes e experiências. Andreone e Rhuann conceituam isso de “brancogamia”, tratando-se de uma das contribuições mais ricas do livro. Fato é que a diversidade pode e deve estar presente em tudo, inclusive no nosso modo de amar e de nos relacionar com quem amamos, sem deixar ninguém para trás, e Andreone e Rhuann propõem reflexões para isso.
Bela Gil é chef e proprietária do restaurante vegetariano
Camélia Òdòdó, autora de sete livros, dentre eles cinco best-sellers, ativista e apresentadora de tevê.