A cultura de uso de crack no contexto das ruas é um fenômeno que tem gerado inúmeros debates e opiniões em nossa sociedade. A mídia tem sido responsável por noticiar de forma alarmante o grande mal que destruiria o nosso futuro: o crack. Alçado a grande mazela dos nossos tempos, o crack passou a ser descrito como o responsável pelo consciente caminho para a morte, de inúmeros usuários e usuárias. O surgimento de uma fantasiosa epidemia de crack encobriu a construção de políticas de controle de corpos e territórios militarizados pela chamada guerra às drogas. Em meio a um debate que priorizava o poder do efeito do crack, a narrativa das parceiras desta pesquisa mostrou que o crack era o remédio que as fazia aguentar a dor das violências que sofriam. No lugar do caminho da morte, o crack dava o caminho para conseguir viver tantas adversidades sendo mulher, usuária de crack no contexto da rua.
Este livro busca apresentar como as violências diversas advindas de contextos racistas e sexistas podem ser a verdadeira porta de entrada do uso compulsivo de crack, levando-nos a refletir que a saída para resolver o problema da droga está inteiramente ligada com a resolução de desigualdades raciais, econômicas e de gênero. A partir da pesquisa apresentada, concluo que a política de drogas, tal como se apresenta na atualidade, reforça opressões de raça, gênero e classe constituindo uma arena marcada pela injustiça social na vida das mulheres. A resposta a essas opressões aparecem na pesquisa a partir da construção do campo do feminismo antiproibicionista que tem organizado politicamente mulheres afetadas pela Guerra às Drogas.