Há como esconder um genocídio? Há como esquecê-lo? Há como naturalizá-lo, apresentando-o como uma “guerra justa”? O genocídio dos Kaingang, impetrado pela elite paulista no começo do século XX, é um exemplo de como um genocídio pode ser propositadamente enterrado em alguma sala de arquivos e documentos empoeirados, objetivando-se construir uma imagem positiva de uma elite que se apresenta cosmopolita. Por que as obras que ovacionavam o genocídio até meados de 1950 deixaram de ser publicadas? É uma falsificação histórica e política, que a presente obra pretende contribuir em sua correção. No começo do século XX, algo em torno entre 30 a 40% do território paulista era habitado por povos indígenas, com protagonismo dos Kaingang. A oligarquia cafeicultora, os governos paulistas e a elite intelectual consideravam uma chaga na história do estado que se apresentava na República Velha como território de descendentes de heróis e representantes de um povo racialmente superior aos restantes dos brasileiros, sobretudo os nordestinos. Segundo a elite da época, os paulistas seriam racialmente superiores por serem descendentes da mulher tupi e do branco português, diferentemente dos nordestinos, que seriam descendentes dos africanos e de indígenas tapuias, considerados inferiores porque não foram catequizados. Mas como poderiam defender a superioridade racial dos paulistas se os Kaingang, povo classificado pelos paulistas de tapuias, controlavam parte do território paulista? A resposta a essa contradição “evolutiva” foi o genocídio dos Kaingang, com uma legislação específica e uma teoria racial, avançando-se concomitantemente o capital cafeeiro e substituindo-os por imigrantes brancos e cristãos.
Holocausto paulista: o genocídio dos Kaingang sob o mito da paulistanidade
R$55,00
O presente livro trata de um genocídio. Como foi planejado, arquitetado e executado baseado em um mito de superioridade racial, transformou-se em um holocausto, com consequências demográficas drásticas para o povo Kaingang. A obra não trata dos vencidos, mas dos vencedores, a elite econômica, política e intelectual paulista da primeira metade de século XX, que, a rigor, é a mesma do modo de produção escravista e da contemporaneidade. É uma história das famílias que acumularam no escravismo e expandiram seus capitais sobre o noroeste exterminando, por meio do Estado, os Kaingang, que dominavam, segundo fontes oficiais, algo em torno de 30% a 40% do território paulista O objeto do livro é a classe dominante e como ela exterminou povos indígenas, assim como de que forma construiu uma teoria de superioridade racial que justificou e naturalizou o genocídio.