A beleza destes sonetos não é a que encanta ou fascina, a que irradia de versos límpidos, com imagens harmoniosas e assépticas, como o senso comum muitas vezes espera de um soneto. Não. A beleza surge aqui de lugares imprevistos e improváveis, nascendo e emanando das margens — beleza que nossos olhos tantas vezes não veem, ou por estarem embotados pelo cotidiano programado em que vivemos, ou por se deixarem vendar pelo preconceito. Beleza que se revela na solidariedade para com aqueles que sofrem a dor da injustiça; na empatia pelos sem abrigo, pelos esquecidos, degradados pela miséria; na força incansável do afeto, manifestada na perseverança de amantes contra a hostilidade do julgamento alheio, no amor abnegado de um cão abandonado por seu dono, no afinco da mãe em proteger o filho de um mundo adverso… Mas a mão que escreve estes sonetos não vem apenas acolher e afagar os que sofrem. Ela também é feroz e impiedosa em apontar e acusar os culpados por nossas mazelas, em mostrar as feridas e cicatrizes que tentamos esconder. Ela vem ressaltar que não adianta virar o rosto para não ver: somos seres imanentes, vivemos e atuamos numa realidade que constituímos e, ao mesmo tempo, nos constitui, o que nos torna inevitavelmente responsáveis por ela. Estes sonetos vêm nos dizer que o sonho só é possível quando não nos resignamos perante o sofrimento — o nosso e, principalmente, o de todos os seres que, como nós, vivem a experiência de estar neste mundo.
Sonetos inscritos na carne do mundo
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Em “Sonetos inscritos na carne do mundo”, a forma clássica do soneto é, ao mesmo tempo, respeitada e subvertida. Encontramos neles o metro, a rima, a arquitetura do soneto — sendo quase todos em versos decassílabos —, mas atingindo uma narratividade que os aproxima da prosa ficcional. Poesia e prosa aliam-se aqui na criação de uma linguagem vigorosa, rigorosa e intensa, mas sem perder jamais a simplicidade da expressão. O leitor encontrará nestes sonetos uma linguagem que não o repele com rebuscamentos, mas o acolhe — o que não significa que eles lhe propiciarão qualquer sensação de conforto ou apaziguamento.