Este livro é resultado de uma ampla pesquisa que buscou entrelaçar dois elementos-chave: a questão social da pobreza no Brasil nas primeiras décadas da república, e a participação da imprensa periódica na vida social e política no mesmo período. Com o olhar voltado para a cidade de Juiz de Fora (MG), por acreditar que esta reúne elementos presentes em outras cidades brasileiras no que tange aos processos de modernização e da passagem de um modelo econômico e laboral baseado no trabalho escravo para o modelo capitalista-industrial assentado sobre o trabalho livre. Contudo, a síntese desse processo resultou no agravamento da situação de pobreza de uma grande parcela da população, acarretando em sérios entraves às classes dirigentes e elites econômicas, simbioticamente amalgamadas: como a ideia de progresso poderia se sustentar com a presença da miséria de forma tão latente? Como os pobres deveriam ser aproveitados? Qual o lugar que esses indivíduos deveriam ocupar na “nova” sociedade? Se consolidando como uma das grandes forças políticas, os jornais apresentam-se nesse contexto como instrumentos pedagógicos de moralização da sociedade, crítica e cobrança e que dentre outros tantos temas caros àquela ordem do dia, se dedicaram imensamente ao tema da pobreza, e sobretudo se ocupando daqueles que sofriam desse “mal”: os pobres. Numa grande polifonia de vozes e opiniões, os homens de imprensa travaram pequenas batalhas cotidianas com suas penas, às vezes quixotescas pela instrumentalização política dos periódicos, em prol da grande luta do século XX: “A gloriosa epopeia do trabalho”.
“Nada torna o homem mais otimista que o estômago cheio”: as representações da pobreza na imprensa de Juiz de Fora (1890-1919)
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Este trabalho teve como objetivo investigar as representações da pobreza na imprensa de Juiz de Fora (Minas Gerais), em dois periódicos específicos, O Pharol e O Pobre, no período de 1890 a 1919. A escolha pela cidade de Juiz de Fora se deu por acreditar que o município reúne características típicas do processo de modernização e industrialização encontradas em outras cidades brasileiras, inclusive, de maiores proporções e préstimo, sobretudo na região Sudeste do Brasil. Por isso, configura-se como um “laboratório” ao reproduzir, em escala local, os processos e as contradições vivenciados no contexto nacional, ainda que guardadas suas próprias particularidades.