Este trabalho explora as relações entre território, dor, sofrimento e parentesco manejadas pelas mães e familiares de vítimas de violência do Estado na Baixada Fluminense. Debruçada sobre o tema da violência praticada por agentes do Estado, que compreende policiais militares e também grupos de extermínio e milícias, analiso as mobilizações de mulheres familiares das vítimas. As mães Luciene Silva, Nivia Raposo, Ilsimar de Jesus, Elisabete Farias, Maria e Rozinete Santana e a irmã Silvania Azevedo, integrantes da Rede de Mães e Familiares de Vítimas de Violência do Estado na Baixada Fluminense, são as principais interlocutoras desta pesquisa. Através de atos protagonizados pela Rede que foram acompanhados em 2019 e de entrevistas virtuais concedidas por essas mulheres no fim de 2020 e início de 2021, percebo categorias centrais para um estudo acerca dessas agências femininas que seguem um evento crítico. Desse modo, trabalhei a especificidade da atuação do coletivo de mães e familiares no território da Baixada Fluminense, que além de ser historicamente associado ao estigma da criminalidade, convive com a exaltação de grupos poderosos responsáveis pelo assassinato, em massa, de jovens negros. Em seguida, ao colocar o gênero enquanto elemento central, examino a conexão entre emoções, luto e maternidade na luta por justiça e memória dos mortos. Além disso, também considero os encerramentos nas trajetórias das mães após a morte de um filho e o modo de como suas vidas e seus corpos são afetados pelo sofrimento. Encerro esta dissertação com um estudo sobre o lugar do parentesco na ausência de filhos e familiares vitimados pelo Estado e o exercício da maternidade em territórios periféricos. Também me interesso em conhecer os meios que as mães têm em se relacionar com um filho que não existe mais em um sentido físico. Dessa maneira, meu trabalho versa sobre categorias que contribuem com estudos sobre o tema, de modo que acrescente percepções sobre a Baixada Fluminense, as dinâmicas individuais e coletivas ante o luto, a manutenção e as transformações na rede de parentesco.
“Nossos filhos têm mães!”: a violência de Estado na Baixada Fluminense
R$57,90
“Nossos mortos têm voz; nossos filhos têm voz; nossos filhos têm mães!” é um grito proferido pelas mães e familiares de vítimas de violência estatal nos atos e protestos. Levando cartazes com o rosto dos filhos, vestindo blusas com suas fotos e lutando contra o Estado, responsável por retirar a vida de uma pessoa amada, as mulheres são as protagonistas nessa luta. O título desse livro se explica na medida em que converso com as mães: Elisabete, Ilsimar, Luciene, Maria, Nivia e Rozinete, e a irmã, Silvania. São mulheres que mesmo marcadas pela dor e o sofrimento de perder alguém cedo demais, protagonizam resistências. Este livro, fruto da minha dissertação, busca analisar as agências dessas familiares, a memória, a luta, a maternidade, o parentesco e a violência estatal na Baixada Fluminense.