Mais de uma década antes da revista romântica de mesmo nome, o poema Niterói (1822) dá forma literária a um mito em que Januário da Cunha Barbosa interpreta a paisagem rochosa da baía de Guanabara como a petrificação de um gigante deitado, entre outras figuras mitológicas de origem grega que povoam o Atlântico e o litoral fluminense. Nessa narração, a metamorfose do gigante Niterói vem associada a uma profecia do futuro glorioso do Brasil. Este poemeto épico, mal conhecido, não tinha sido reeditado em forma de livro desde sua primeira edição oitocentista. Este volume o apresenta com as notas originais do autor, em versões modernizada, crítica e diplomática, e proficuamente acompanhadas de estudos que contextualizam o poema e seu autor na época da independência nacional. Na sequência, o mito do gigante adormecido, acordado ou por acordar, foi entendido como icônico do Brasil inteiro. Beethoven Alvarez faz este mito, central para o imaginário do Brasil, finalmente acessível ao público atual e demonstra no seu estudo inspirador como a figura do gigante tem sido apropriada por certo discurso, sobretudo conservador, vivo até hoje.
Roger Friedlein (Ruhr-Universität Bochum).