Niterói: metamorfose do Rio de Janeiro

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Niterói, para alguns, significava “mar escondido” (em tupi, de Nictero = escondida, e hy = água). Para outros, a palavra viria de Ynhéterô (ou Nhêteroy), “seio de água abrigada”. No passado, Niterói também nomeava a baía chamada da Guanabara e hoje batiza a antiga Vila Real da Praia Grande. Contudo, no século XIX, Niterói também era um dos nomes do gigante de pedra que adormecia nas águas fluminenses. Desde muito cedo, o relevo da Guanabara estimulou a imaginação de viajantes que viam com grande assombro as estranhas penedias que defendiam a entrada marítima do Rio de Janeiro. Ainda no século XVII, o hoje famoso Pão de Açúcar já tinha sua imagem associada qual a de um gigante monstruoso. O imaginário de um relevo gigante que se deita, ou, às vezes, se levanta das águas criará um tópos cultural e literário marcante, a ponto de culminar como símbolo da nação: o “gigante pela própria natureza”, “deitado eternamente […] ao som do mar e à luz do céu profundo”. Em 1822, o cônego Januário da Cunha Barbosa usou a mitologia greco-romana para recontar a história da montanha titânica. No poema Niterói: Metamorfose do Rio de Janeiro, que aparece agora, dois séculos depois, nesta reedição, o gigante Niterói é representado como um indígena brasileiro colossal, filho do titã grego Mimas, que morrera na Guerra dos Gigantes. Para vingar sua morte, Niterói decide se insurgir contra o Olimpo. Morto por Júpiter/Zeus, seu corpo se metamorfoseia nas águas da Baía de Guanabara, e o rochedo que arremessaria contra os deuses se transforma no Pão de Açúcar. Embora de sugestão poética, as apropriações da imagem do gigante Niterói em mescla que oscila entre imaginário e realidade, entre passado e presente, nem sempre foram gentis com os povos indígenas e os mais pobres. Como vestígio de lutas, a Baía de Niterói e seu gigante mon(s)t(r)anhoso se revelam, como se discute neste livro, como dura(doura)s marcas na geografia física e imaginária do Rio de Janeiro e do Brasil.