Envelhecer é uma das experiências contemporâneas mais desafiadoras e surpreendentes do mundo atual. Significa poder passear por muitas fases da vida – infância, vida adulta e senioridade, como em uma sequência de reencarnações concretas em uma linha de tempo que configura a cronologia pessoal de cada um, com toda ou nenhuma lucidez, que perfazem o registro de inspirações e experiências acumuladas. Envelhecer surge, então, como um enorme fluxo de emoções, relações afetivas, econômicas, sociais que tocam o ser em suas faces mais vulneráveis, perpassando seus corpos, gostos, dores, rancores e amores. Envelhecer nos obriga a encarar a morte, a doença, a limitação física, nosso passado, erros e acertos exclusivos e intransferíveis àqueles que sobrevivem à própria vida.
Modos de envelhecer dizem muito sobre a forma como a sociedade se acaricia, solidariza ou se perverte, agride e enlouque seus membros. Trata-se de traçar um panorama múltiplo e irrequieto que pode nos tornar mais humanos, tenazes, intensos e renovados ou nos atirar ao aprisionamento, ócio, medo ou terror que se afigura à mera condição de espectadores da passagem do tempo.
Uma coisa é consensual, só envelhece quem vive – envelhecer é estranhamente viver.