A representatividade no mercado editorial

representatividade no mercado editorial

Nos últimos anos, a busca por representatividade vem ganhando cada vez mais força, seja na política, no mercado de trabalho ou no entretenimento.

Sentir-se representado por alguém que está sob os holofotes, na vida real ou na ficção, ainda é algo que não acontece para muitas pessoas, principalmente para quem está fora do padrão branco, heterossexual, cisgênero e classe média.

Na literatura, esse esforço por representação também existe e, apesar de ser uma luta difícil, conta com diversos autores, leitores e pessoas do mercado engajados na causa. Mesmo com uma abertura e uma ótima receptividade para as histórias nacionais que englobam minorias e narrativas diversas, o mercado pode melhorar ainda mais.

A representatividade negra

Quantos livros escritos por pessoas negras você já leu? Quantos autores e autoras negras você conhece? Uma pesquisa desenvolvida pelo Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea – coletivo de pesquisadores vinculado a Universidade de Brasília (UNB) -, mostra que entre 2004 e 2014 apenas 2,5% dos autores publicados não eram brancos e apenas 6,9% dos personagens retratados nos romances eram negros, sendo que só 4,5% eram protagonistas da história.

A falta de espaço em grandes editoras e o racismo institucional que muitas vezes desvaloriza a produção intelectual negra podem ser apontadas como alguns dos motivos para a menor presença da literatura negra em estantes e livrarias.

Alguns segmentos do mercado editorial começam a dar mais visibilidade para escritores e escritoras negros. Em especial, eventos, feiras e bienais literárias passaram a focar-se em temas como a diversidade e a resistência. 

A representatividade das mulheres

As mulheres formam a maioria do público leitor, mas na capa dos livros os nomes femininos ainda são uma minoria. Ainda de acordo com a pesquisa da Universidade de Brasília, nas publicações, a predominância é de escritores (70,6%) e de personagens homens (58,2%), brancos (77,9%) e heterossexuais (85,7%). 

De 2005 a 2014, segundo a pesquisa, o número de autoras aumentou 3,5%. Esse aumento não envolve apenas editoras, já que muitas autoras se autopublicam com apoio de financiamento coletivo. 

Em 2016, a Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) teve recorde de escritoras convidadas a palestrar. Foram 17 autoras de um total de 39 convidados. Leitoras também se somam a essa batalha por representatividade. Em 2014, a escritora Joanna Walsh propôs o projeto #readwomen2014 (#leiamulheres2014, em português). Por meio da hashtag, as pessoas compartilhavam nas redes sociais fotos dos livros das escritoras que estavam lendo. 

A representatividade LGBTQIA+

Nem a Literatura com personagens LGBTQIA+ e nem escritores desse segmento populacional são ocorrências recentes. O primeiro personagem homossexual na Literatura brasileira, ainda sob um estigma patologizante, veio em Um homem gasto, romance de Ferreira Leal de 1885 e que precedeu Bom crioulo, de Adolfo Caminha (1895).

Mesmo com essa carga histórica, a literatura com temática LGBTQIA+ ainda é segregada e envolta em polêmicas, desde a colocação de avisos de conteúdo em obras que abordem a temática até casos mais graves como no da Bienal do Livro de 2019, no Rio de Janeiro, em que o então prefeito Marcelo Crivella determinou o recolhimento de publicações que representavam pessoas LGBTQIA+.

Por mais que a literatura permita o exercício da criação – um homem escrever por uma mulher e vice-versa – é importante que a pessoa que vivencia a minoria social expresse de forma mais real as dificuldades que permeiam o cotidiano. 

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