Versos intensos demais para serem lidos sozinho

Quando recebi o diagnóstico positivo para o HIV, planejava um ano sabático e tinha me programado para isso. Mas aquele positivo catalisou um processo de luto, somando-se ao fim de um namoro conturbado, o desencantamento com minha carreira profissional e o golpe que tirou Dilma do poder em 2016. Todos esses fatores fizeram da minha saúde mental um caco. Um ano depois, meu psiquiatra confirmou que sou borderline. Parecia mais do que poderia processar. Meu sabático acabou sendo meio sabotado, meio realizado. E eu tive que processar toda aquela frustração – com meu ex-namorado, meus pais e o mundo – e encará-la de frente. Minha forma de fazer isso foi por meio da escrita. Tinha toda melancolia do mundo dentro de mim e muita disposição para ficar sozinho, em silêncio, contemplando o vazio que rasgava meu peito. Nos versos a seguir, compartilho meu lento processo terapêutico para lidar com todas essas dores: o luto da perda de um relacionamento pelo qual eu prezava tanto; a frustração com a forma muitas vezes superficial como os relacionamentos acontecem no mundo gay; a dor diante da pandemia da covid19; a raiva contra o governo genocida de Jair Bolsonaro; a dor da solidão que eu escolhi viver até aprender a me amar antes de aceitar a aventura de entrar em outro relacionamento amoroso; meu amor pela minha família e meu cachorro; entre tantas outras dores existenciais. Espero que, ao me despir e compartilhar, intensamente, tanta intimidade, meu leitor perceba que não está sozinho.