Religare! O primeiro soneto, que se chama “Último soneto”, impactará você leitor, mas avisará que o paradoxo deve ser amado. Assim inicia esse Livre das Sobras de Augusto de Almeida. E o que nos sobra? A Lua talvez, ou a poesia acústica e translúcida que brilha conforme o olhar Juliano de Augustus que somos? O clarear mais uma vez, em maio outra vez. Cada verso é um tiro que em nulo vota, que caminho sobra? A reta da cruz, o céu em linha reta, religare novamente. No cio a santidade capivaresca redescobrindo nas figuras mais marginalizadas a Curitiba cidade madrasta às vezes, assintomática as vezes, mas a alma azul tocará o céu, nos seus acrósticos, nos toques intrínsecos parnasianos, na poesia libertadora dos mendigos. Ainda há livros no lixo da tarde para servirmos à la carte, para rompermos com os muros altos sem fim, mesmo que de dentro da esperança nefasta, dizimar as desigualdades, afinal, as folhas livres tocarão o céu. E se a cada like eu me ligo, a cada livro eu me livro, eu discordo, eu esbravejo, eu rivalizo, me vejo lendo, me leio lendo, e me livro da jactância nefasta, serão sobras? E quando você leitor pensar que tudo está perdido, o perdão (sim! Ele mesmo), surge para extinguir, para fazer emergir o milagre, a beleza (sim! Ela mesma), que parecia tão pálida, tão oculta, tão vetusta que seu surgimento causa furor, surpresa, impacto. A linha que estava oculta curitibanamente surge entre nuvens. Deus não existe, Deus é… É uma gota triste, é voz aveludada, é um instrumento tocando a melodia, é uma flor (sim! A flor que estava quase esquecida na poesia, quase proibida de versar mesmo em métricas perfeitas, surge da gólgota para eclodir num apotegma sem arestas.)
Religare novamente com este livro que tens em mãos. Peço licença ao poeta e transformo seus próprios versos em dístico no livre arbítrio que me é concedido no papel de leitor e digo:
Ter em mãos esta carta de alforria…
Não faz sentido usarmos correntes!
Guilherme Campos, professor e escritor.