O dia nasceu cinzento. Depois da madrugada quente, em que o silêncio tomou conta das quitinetes velhas cheirando a alvenaria úmida e a cinza de cigarros, com pessoas sussurrando nos colchões gemidos de um prazer roubado, pecaminoso. De portas sutilmente abertas e sandálias desgastadas sobre o tapete encardido. Do ronco seguido de baforadas fétidas dos bêbados recém-chegados do trabalho noturno ou do prostíbulo, deitados ao lado de suas esposas tristes e mal-amadas. Do som baixinho, com músicas de Abílio Farias, Nunes Filho e Teixeira de Manaus, de onde se podia ouvir o copo de cerveja tocar a velha mesa de madeira, com a toalha de pano puído, cheirando a pão mofado, e do ruído da TV fora do ar. Enfim, o dia acabara de nascer na vila de quitinetes.
Vida de Quitinete.