“Doracy tem 58 anos. É merendeira e minha aluna. Hoje, a gente leu um fragmento de “Morte e vida severina”. A gente conversa. Doracy me fala: – Tem um aluno… na minha escola, que ele outro dia me pediu mais um pouquinho de merenda. Você sabe que a merenda tá contada, né? Acho que até a daqui tá também, mas, eu dei. O pessoal reclama, mas eu dei. Me escondi, mas dei. Poxa, eu vi que não era gula… Ela me olha. Faz reticências. Prossegue: – Ele pegou a comidinha e foi lá pro canto. Depois, voltou com o prato limpinho e disse: – Tia, esta noite eu vou orar muito pro Senhor deixar você estar de novo aqui amanhã.”
O livro dos saltos
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Quando, em 2014, escrevi a orelha de “Céu baixo”, não imaginei que ele voltaria a tentar novamente alguma eternidade. Encontro-o agora outro, olhando para fora, observando o mundo para tirar suas histórias curtas, suas crônicas – que tanto podem ser enfermidades do tempo. Para a sua paz, ou para algum intervalo, descobriu uma fórmula contemporânea: o texto curto-curtíssimo. Em alguns, encontrei potência, enfermidades; em outros, tempo, ou tudo o que é sim. Li-o muitas vezes porque algo lhe devo e entendo que são histórias honestas, menores, pequenas, também de gente pequena, que não mereceria celebração, não tivesse o mundo dado voltas. O autor vai se inscrevendo no mundo como o observador de invisíveis – de dentro, “céu baixo”, para fora, aqui. E isso é bom. Há, neste livro, porém, uma vaidade que não encontrei no primeiro, posto que aquele mais parecia necessidade. Agora, entretanto, resta a pergunta cheia de poeira: o que não é vaidade e andar atrás de vento? Apesar do que acabo de fazer, os contos (e as contas) aqui concertados merecem o papel. Parabéns!
O. Mixam Oneleh, artista plástico.
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