Guimarães Rosa dizia: “Não faço literatura regional. Faço literatura universal”. Suas personagens, arraigadas no Sertão de Minas Gerais e marcadas por cicatrizes de tramas intrincadas, tinham a fala bordada em um dialeto singular. Ainda assim, seus dramas eram universais. Era a humanidade em xeque, em seu impulso, ambição e ternura, em um desfile de rudes gestos e sábias palavras. Elisio segue um caminho inverso, moldando temas universais com sua visão peculiar da condição humana. Ele é a palavra que transborda de um espírito inquieto, forjado entre a correnteza do Rio Paraíba do Sul; o apito que soa desde a Estação Ferroviária de Pinheiral, avisando que lá vem minério e que lá vai o aço para o país; e os sussurros de um lugar que já foi, no mundo, a maior fazenda de café plantada e colhida por pessoas escravizadas. Entre cavaleiros templários, o imperador chinês Shen-Nung, Heródoto – pai da História, Jesus, o rapto das sabinas e episódios da Segunda Guerra Mundial, chega-se a um jequitibá e ao Bloco das Piranhas de Pinheiral, estas sim suas verdadeiras histórias universais, como Fellini em seu Amarcord. “Sua filosofia pode ser das melhores, mas não posso perder tempo com meia dúzia de palavras ante a um enfermiço, se outro freguês me aguarda para o ofício que de mim depende”, diz o livro em uma de suas passagens. Elisio conseguiu fazer brotar sua meia dúzia de palavras, tecidas em meio aos ofícios que dele dependiam.
ANTONIO LASSANCE, Historiador, cientista político e pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.


