A força da poesia está na pele, na separação forçada dos corpos apaixonados, no íntimo. A coletânea transborda paixão: é chama e também cinzas; saudade que aperta e traz recordações de bons momentos vividos. É memória, é urgência. Fala da efemeridade da vida, ao passo que mostra ser essa, também, a sua constância.
Em “Virgínia”, “sobre a ancestralidade do Vale do Jequitinhonha”, dedicado à avó da escritora, vemos a narrativa da tradição feminina passada ao longo de gerações: benzedeiras, parteiras, mulheres portadoras de uma sabedoria ancestral. “Mulheres de Minas”, como diz a poeta, em uma exaltação não só do interior do país, como também do sagrado feminino, que resiste apesar de tudo.
A autora também reflete sobre o fazer poético, sobre o lugar que a sua poesia ocupa no panteão literário, especialmente nos versos de “Quem me dera”. Fala sobre a voracidade do fazer arte. Em “A pintura”, Ivete traça um cenário em que o pintor é ao mesmo tempo regente da arte e regido por ela. São versos com alma, e o ritmo nos convida a percorrer todo o caminho trilhado pelo artista para dar vida ao seu trabalho: tela escrita com tudo aquilo que transborda.